Os Videos do King_leer, Outono 2016

quinta-feira, 25 de junho de 2009

LENA COELHO , A "DOCE" MANIA...!





É inquestionável que o autor deste “vosso” blog segue com particular atenção o fenómeno pop Nacional e Internacional. É igualmente inquestionável que dou particular atenção ao mercado Internacional, nomeadamente ao Reino Unido.

No entanto, neste nosso Universo musical, temos que ir em busca do que é realmente interessante “anotar” e transmitir. Foi com essa intenção que em primeiro lugar me dirigi à Lena, que apesar de a não conhecer pessoalmente, sinto já o à vontade de a tratar por tu. Por vezes – e todos sabemos que isso é verdade – certas figuras da cena musical são conotadas ou até carimbadas com um certo “logotipo” que por muitas vezes não corresponde de todo à verdade.

Senti particular interesse em saber um pouco mais sobre a história da Lena e das Doce, que são um marco da nossa história musical. Saí esclarecido e, acima de tudo com a experiência entretanto adquirida – e não são poucos os artistas que já passaram por aqui – foi uma da entrevistas que mais prazer me deu fazer e onde encontrei uma “oponente” perfeitamente esclarecida e com muita coisa a dizer nas ditas entrelinhas….. É esta arte de comunicar que nos dá experiência e faz de nós melhores profissionais.

Um muito obrigado à Lena Coelho e recordem as Doce no video player do blog.

P.s. Entretanto, no momento que escrevo este post é anunciada a morte de Michael Jackson. É assim a vida, ou melhor, a vida são muitas vidas e a morte é só uma. Penso que a Lena me permite esta “intromissão”. Era sem dúvida um artista único.

King_leer (KL):

O que tens feito? É natural que com o passar dos anos as pessoas tenham perdido o rasto da Lena Coelho das Doce. “Quem és agora” e quais os teus principais desafios?

LENA COELHO (LC):

Tenho estado sempre no activo.O fim das Doce não foi o meu fim...foi sim só o grande ensaio geral da minha carreira que conta já com 33 anos.

Formei a minha própria banda e durante 3 anos, continuei com sucesso, de palco em palco por este país fora e estrangeiro.Em 1990 resolvi entregar-me à arte de Talma.Comecei como actriz em televisão passando rapidamente para o teatro, sendo a estreia como protagonista do musical "A Severa" no teatro Maria Matos, sucedendo assim a Amália Rodrigues como protagonista da Severa.

Daí passei para o Parque Mayer e para o teatro de revista, onde estive durante sete anos. Em simultâneo continuei a participar em várias séries de TV, teatro itinerante e tive também um programa sobre Fado e Casas de Fado num canal da TV Cabo como apresentadora e cantora.A última série de TV onde era protagonista ao lado de António Feio, Vítor Norte e Maria João Luís, foi gravada em 2001.

Interrompi a minha actividade em 2003 por motivos de saúde e passados 2 anos lancei-me como produtora musical e olheira de novos talentos.Tenho um livro por acabar, escrevo letras e componho músicas.

As Docemania têm ocupado os meus últimos 4 anos, mas em breve voltarei aos palcos como cantora, pois a saudade bateu à porta...

O meu grande desafio é constantemente superar-me.O meu grande desafio é conseguir sempre, acima de tudo, ter uma família unida e feliz, onde eu sou o grande pilar e a grande palhaça.

(KL):

Para quem visita a tua página no Myspace, não pode deixar de reparar na boa vibe que deve acompanhar o teu dia a dia. Foste sempre assim tão positiva?

(LC):

Não compensa ser de outra maneira! Sou por natureza uma pessoa bem disposta e positiva. Sou uma mulher com a plena noção do que quero, logo, do que não quero, seja a nível pessoal ou profissional.

Ate hoje tudo o que me deitou abaixo foi a morte de minha mãe, tinha eu 15 anos, e a morte de meu pai à nove anos.

Foram vivências demasiado violentas e dolorosas, vi o meu tempo em tempo desfeito...Há nove anos atrás e durante três anos fui uma mulher desfeita e perdida, mas o tempo deu uma ajuda e a minha cabeça ergueu-se de novo, apesar

de meu coração continuar a sangrar...

(KL):

Sobre letras:

Qual a letra/música tua que mais te deu prazer fazer,e qual a razão?

Qual o(a) artista ou grupo, Nacional ou Estrangeiro que mais te influenciou e, igualmente qual a razão? (Não pude deixar de reparar tens o Freddy Mercury nos teus top friends).

(LC):

As letras, os livros, são sempre filhos que parimos, daí ser difícil dizer-te qual a mais significante para mim, mas o tema " A Tua Droga", um dos primeiros, tem algo de especial. Fala da droga como se fosse uma mulher à qual um homem está completamente "agarrado" e como sofre quando ela se ausenta. Escrevo o refrão para que seja mais perceptível o que quero dizer:

“Rainha das viagens, sou a tua Heroína, querida...embrulhada em papel prateado em cima da mesa à espera....à espera de ser consumida. E sempre que me ausentar, as mãos vão-te tremer e o desejo aumentar, até te fazer sofrer...”.

"O teu amor faz-me mal" marca uma fase dolorida da minha vida sentimental.

"Amor Nosso" é um tema que fala da explosão orgásmica da paixão e do amor.

"O amor não mata" , espero que ouças no novo álbum das Docemania a sair em Setembro mas a sair para os media em Julho.

Em miúda adorava a Susy 4, uma rockeira fantástica dos anos 70, mas sem dúvida que Freddie Mercury é o meu eleito. Claro que amava a sua extravagância, irreverência, a forma como se transformava e dava vida às personagens que interpretava, a sua entrega ao amor e todas as consequências, a sua genialidade enquanto compositor e autor, mas a sua voz inigualável era sem dúvida o que me deixava e deixa em perfeito êxtase. Nada se compara a esse grande e eterno cantor.

(KL):

Digamos que em vez de 1979 estávamos (e estamos) em 2009 e, as Doce estivessem agora no início. Que tipo de grupo achas que seriam agora? Arriscas alguma comparação?

(LC):

Seríamos sempre um grupo com as mesmas características mas mais ousadas e provocadoras.Continuaríamos a não temer nada nem ninguém. Continuaríamos a seduzir e fazer sonhar. Comparações são sempre lixadas, mas, tendo a perfeita noção da dimensão diferente das coisas, arrisco dizer que teríamos muito de Madonna e Pussycat Dolls.

(KL):

Uma pergunta um pouco “difícil” mas, como sou igualmente dessa geração arrisco:

Tens a noção concerteza que despertavas no público masculino um efeito diferente tendo em conta a tua sensualidade. Era algo que te incomodava?

Tiveste algum episódio curioso que nos possas revelar? Apanhaste alguns sustos?

(LC):

Ainda hoje meu amigo, e gosto...

Sempre me senti ligada à natureza e sempre fui um pouco selvagem, logo, a sensualidade é para mim como ter uma perna ou braço. Normal!!Sempre a vivi e senti como uma coisa muito natural e sem a qual não sei viver e os jogos de sedução sempre me excitaram.

Jamais me esquecerei dos espectáculos no quartel de Santa Margarida e em Fuerte Ventura, para a Legião Espanhola...A excitação pairava no ar...foi tenebrosamente delicioso...

Um susto, apanhei nas Doce quando seis homens tentaram entrar nos nossos quartos para nos violar.Foi assustador!!

De resto, não saberia viver sem essa emoção que é o desejo e a atracção.

(KL):

Actualidade:

Que achas do panorama musical actual? Quem ouves hoje em dia, Nacional ou não?

(LC):

Felizmente há cantores e músicos excelentes no nosso país. Aprecio todo o tipo de música menos a dita "pimba". Ouço Rui Veloso, António Variações, Sara Tavares, Ana Moura, Maria João, The Gift, Jorge Palma, Deolinda, Xutos,

Quinta do Bill, Íris, Freddie Mercury, Michael Buble, Pussycat Dolls, Pink, Christina Aguilera, ZZ Top,Madonna, Elis Regina, Maria Luisa, música clássica, etc...

Penso que o nosso panorama musical está a melhorar consideravelmente. Felizmente o Ediberto Lima já não tem qualquer programa na TV e assim é bem mais difícil todos os que "acham" fazer boa música e cantar bem terem lugar cativo em programas que em nada dignificam as nossas televisões e menos ainda a nossa música.

(KL):

Um desafio:

Não terás que seguir de todo o refrão do “Bem Bom” mas para cada hora, deixo-te o texto livre, para falares de ti, da sociedade actual, da crise, da guerra, de sexo, de livros, televisão, “whatever”. Vamos lá:

(LC):

Falar de mim...Sou uma mulher com qualidades e defeitos como qualquer outra. Respeito-me acima de tudo e sou uma mulher frontal, sem papas na língua, o que me tem feito sofrer algumas represálias profissionais, mas com as quais lido bem. De mim, as pessoas têm o respeito que me merecem ou não. Odeio intrigas e gente falsa. A mentira enoja-me.

Choro facilmente com o sofrimento dos outros e estou sempre pronta a dar a mão a quem precisa e merece. Amo viver e amar.

Sou louca pelos meus filhos e não passo sem os meu cães. Adoro animais e crianças "bem educadas". Não tenho paciência para as festas do croquete para que diariamente recebo convites. Amo viajar e conhecer novas culturas.Amo o meu homem e sou feliz a seu lado. Amo os meus poucos mas fantásticos amigos. Vivo um dia de cada vez. Faço os possíveis por ser sempre correta e justa com os que me rodeiam. Tento ser o mais perfeita possível em toda a minha imperfeição.

Actualmente todo o mundo vive uma situação delicada e nós não somos excepção, mas acredito no nosso governo.

A sociedade actual vive em prol das aparências e como nós sabemos, nem tudo o que luz é ouro...Vejo muita hipocrisia.

Todos, em geral, querem ser e parecer aquilo que não são. Infelizmente há muitos José Castelo Branco no nosso país.

Acredito que um dia estes seres desapareçam e então exista menos mal no mundo...

A guerra é a coisa mais estúpida ao cimo da terra, principalmente quando é feita em nome de Deus. É horrível o sofrimento que vai por esse mundo fora...

Adoro ler, não só pelo agradável que é mas e principalmente pela cultura, conhecimento que ganhamos ao ler. Ajuda também a exercitar o cérebro e é uma forma fantástica de relaxar e aprender ao mesmo tempo.

Quanto mais leio mais vontade tenho de o fazer.Vários são os autores da minha biblioteca e entre eles claro que estão Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Florbela Espanca, Pablo Néruda, Gabriel García Márquez,Henry Miller, Arthur Miller,Carlos de Oliveira,Agostinho da Silva,Frank Kafka, J.D.Salinger, Malcolm Lowry,Dan Brown, Nicholas Sparks, Mário de Andrade, Jorge de Sena, Alexandre O`Neill, António Gedeão,Natália Correia, Miguel Torga, Cesário Verde, Camões, David Mourão Ferreira, Pedro Paixão, etc...

Televisão vejo pouco...filmes, algumas séries, documentários e biografias.

Sexo em quantidade e com muita qualidade, sempre.Para quê gastar dinheiro em ginásios se a melhor ginástica se faz na cama ou até mesmo na cozinha...

FIM

Links:

http://www.myspace.com/lmtrc63

http://www.clubedasdoce.com


terça-feira, 23 de junho de 2009

"YMCA" ? Os Village People no Séc. XXI - A entrevista























Tendo em conta que no ano de 2008 os VP tiveram direito à sua estrela no famoso "passeio da fama de Hollywood",
foi igualmente o ano em os direitos humanos e os direitos Universais mais consagrados foram novamente
abordados no filme "Milk", centrado na vida do activista gay Harvey Milk e a sua luta contra os seus direitos
e da comunidade gay em San Francisco e, igualmente 2008 foi o ano em que os "ventos da mudança"
começaram a ecoar nos EUA, pensei ser este um momento interessante para falar com a banda,na pessoa
de Jeff Olson, o cowboy dos VP. Espero que apreciem as linhas que se seguem. Um grande obrigado ao
Jeff, à banda e ao Mitch da "Sixuvus, Ltd".

Ambas as faixas referidas nesta entrevistas podem ser vistas/escutadas no media player do blog.

Left photo by Angel Morales. Village People © images are property of Can't Stop Productions, Inc. All Rights Reserved.


King_leer (KL):


Agora, passados 31 anos, estou certo que podes responder a esta: Tendo em conta que cada membro do s Village People representava um ícone Americano, se fosse possível adicionar um membro extra ao vosso grupo nos dias de hoje, quem escolheriam?


Jeff Olsen (JO):


Efectivamente, dedicamos muito pouco do nosso tempo a pensar adicionar um novo membro à banda. Sempre fomos 6 por tanto tempo…que não me parece correcto.

De qualquer modo, quando brincamos um pouco com esse assunto e, se tivéssemos que adicionar um novo ícone à banda, este seria de certeza um Bombeiro. Seria um membro em que como todos os outros as pessoas iriam ver nele uma figura importante da sociedade e pela qual nutririam um respeito acima do normal.


(KL):


Um dos exercícios que habitualmente faço aqui neste espaço é tentar ir um pouco mais além no significado de certos temas. Na certa já falaste sobre esta música várias centenas de vezes, no entanto, e, ainda sobre o “YMCA” e após estes anos todos em que se deu maior ênfase à “aproximação gay” na leitura e decomposição da letra deste tema : Relendo novamente, fica a ideia que além do significado atrás mencionado, se trata de uma mensagem para alguém que está em dificuldades e é enviado para um espaço onde pode encontrar alguma ajuda. Estou longe da verdade? Ao mesmo tempo e, vivendo nós actualmente outra crise (e que crise…), que mensagem gostarias de transmitir a um Young Man (jovem rapaz) de 2009?


(JO):


A verdade é que…. o produtor que ajudou a escrever esta canção não sabia sequer o que era o YMCA até lhe ter sido explicado… uma comunidade baseada na ajuda a pessoas em todas as formas possíveis. E, é disso mesmo que a letra fala. Eu pertenci a vários centros YMCA’s espalhados por este País ao longo destes 30 anos. Neles podes encontrar programas de fitness, centros de dia para crianças…e tantas outras coisas. É uma canção muito positiva sobre todas as coisas que os centros “YMCA” proporcionam. Qualquer um pode ler as letras e chegar à sua própria conclusão…muitas pessoas o fizeram no passado e continuam a fazê-lo. É bom…desde que seja positivo e ajude. Isto é verdade para esta como para muitas outras músicas nossas e de outros artistas.


(KL):


2008 trouxe consigo novamente a história de São Francisco como local e momento chave na luta pelos direitos das minorias, nomeadamente da minoria gay através do filme “Milk” com Sean Penn que retratava a vida de Harvey Milk A vossa canção “San Francisco” fala sobre esse período, certo? Chegaram a conhecer o Harvey Milk? Que vos ia na mente quando escreveram esta música? A letra desta música era um pouco forte para a altura – “Veste-te da forma que quiseres, liberta a tua mente pois esta Cidade é conhecida pela sua Liberdade”.


(JO):


Esta música não foi escrita efectivamente a pensar nas políticas de S. Francisco em vigor na altura. Fala, isso sim, da aceitação generalizada da população desta grande Cidade a todos os tipos de pessoas e seus estilos de vida. Lembra-te que na década anterior S. Francisco deu-nos os “Hippies”, o “Flower Power”, e a cultura do amor! S. Francisco é um local muito liberal para se viver. Eu sei, pois vivi lá quando Harvey Milk estava na Câmara local. E, com muita pena, nenhum de nós teve a oportunidade de conhecer o Sr. Milk.


(KL):


Mudanças, mudanças. 2009 foi igualmente um ano cheio de mudanças nos EUA, principalmente com a eleição de Obama. Qual a vossa opinião sobre este tema? Que mudou efectivamente até agora?


(JO):


O Presidente Obama é simplesmente a pessoa certa para o cargo certo…é por isso que agora é o nosso Comandante Supremo. As pessoas acreditaram que ele era o melhor candidato para lidar com os problemas que se abateram sobre nós e sobre o Mundo. Todos nós concordamos que ele tem ideias novas e frescas, que as comunica bem e além de tudo é novo e tem energia. Ele é inteligente….eu poderia continuar mas estás a ver a fotografia certo? O tempo o dirá…como sempre o faz…se ele terá sucesso em finalizar e concretizar tudo o que prometeu. Ele tem uma tarefa gigantesca entre mãos mas, até agora estamos satisfeitos.


(KL):


Sobre os Village People novamente:

O que vão fazer de seguida? Quando editam – ou se editam material novo? É esse o vosso objectivo?


(JO):


Nós estamos com a tourneé “Touring Career” que nos toma muito tempo e obriga-nos a viajar por todo o Mundo durante todo o ano. Existem conversas sobre material novo por vezes mas de momento nada é certo.

No ano passado recebemos a nossa estrela no passeio da fama em Hollywood, estivemos num anúncio de TV para a American Express…Continuamos muito ocupados com o nosso dia a dia e felizes por ainda continuarmos no activo. E já agora, agradecemos a todos por nos ajudarem a conseguir esse objectivo, por estarmos bem e vivos! Obrigado pela entrevista Luis e esperamos regressar novamente a esse belíssimo País.


FIM


Links:

http://en.wikipedia.org/wiki/YMCA

Links oficiais dos VP:

http://www.officialvillagepeople.com/

http://www.officialvillagepeople.com/links.php

domingo, 14 de junho de 2009

STEPHEN STREET , "UM TOQUE DE MIDAS" - A ENTREVISTA






Ora bem, este é o último capítulo à volta do registo a solo do Pete Doherty. Numa semana muito movimentada para o lado do Peter e com o Graham ocupado com os ensaios dos Blur (Falaremos com ele sobre este assunto mais tarde, espero), era tempo de falar com o homem por “trás do volante”. Como o Maestro que conduz a sua orquestra, Stephen é um dos mais talentosos e experimentados produtores. Ele trabalhou com tanta gente, tantos egos e personalidades mas, proporcionou-nos sempre um trabalho final notável e uma visão pessoal muito própria. Espero que apreciem as linhas que se seguem:

King_leer (KL)

Stephen,

Já fiz algo parecido com o último álbum dos Kings of Leon. Tentar proporcionar a quem lê, algo mais sobre o trabalho de produção. Assim, como produtor, qual foi a tua tarefa desde o início no álbum a solo do Peter Doherty? Em algum momento foi diferente dos teus anteriores trabalhos?

Stephen Street (ST)

Basicamente, tive que ajudar o Peter a desenvolver estas composições até se tornarem canções verdadeiramente estruturadas. Algumas dessas canções existiam há já algum tempo e outras eram muito recentes mas, o que existia de semelhante entre elas era que se tratavam basicamente de ‘sketches’.

As únicas demos que ouvira do Peter eram apenas ele a cantar directamente para o seu portátil, muitas das vezes sem um início ou fim identificáveis, por isso foi quase como ter uma tela em branco, bastante diferente das demos que ouço antes de começar a trabalhar com outros artistas. De qualquer forma foi um desafio e tanto mas, como o Peter inspira-nos como artista, foi mais fácil desenvolver ideias para os arranjos. Ao mesmo tempo foi uma incrível ajuda ter alguém tão talentoso como o Graham Coxon a bordo desde o início. A forma como ele toca é absolutamente inspiradora e tanto o Peter com eu rapidamente começamos a ver que as canções estavam a ir em direcções maravilhosas.

(KL)

O Peter grava diversas vezes demos – como o fez aqui no Porto. Habitualmente começas por aí e depois desenvolves o som inteiro que pretendes para um álbum ? Pergunto isto pois sei que para ti a performance ao nível da voz é extremamente importante mesmo que, “Se alguém capta o momento, não interessa se a voz tem algumas imperfeições” – Cito a tua entrevista em 1999 à Sample Craze. Assim, tu tens que reunir tudo o que existe e misturar com as tuas ideias e conceitos, certo?

Existem fantásticos momentos neste disco, nomeadamente a combinação entre a secções de cordas e as guitarras que criam um ambiente único. Posso dizer até que existe um ambiente tipo “Cabaret” ao longo deste disco com o seu momento mais alto em “Sweet By and By”. Estarei longe da verdade?

(ST)

Como mencionei acima, eu não tinha quase nada a não ser demos muito básicas para ouvir antes das sessões. Simplesmente sentei-me com uma guitarra e tentei criar os acordes e ao mesmo tempo tomando notas sobre as ideias que tinha para os arranjos.

Foi desta forma que depois visitei o Graham e mostrei-lhe o que tinha em mente por forma a conseguir envolvê-lo no projecto.

Quanto á performance vocal do Peter, quando ele está em boa forma ele é fantástico. No entanto, por vezes tive que o pressionar, obrigando-o a terminar as letras e desempenho num nível satisfatório mas, penso que o Peter aprecia que façam isso com ele. Não faz sentido estares rodeado de pessoas que dizem “amen” e fantástico a tudo que fazes.

Eu sabia que, sendo este um álbum a solo, eu não tinha que me preocupar em rodear as canções com o som de uma banda e, assim sendo, libertou-nos para experimentar algo diferente em cada canção, como usar secções de cordas, guitarras “ambientais” e teclados.

Curiosidades 1 (KL):

a) Em “The Last of The English Roses”, nos primeiros segundos da música consegues ouvir algo como uma interferência de telemóvel. Foi produção ou algo mais que isso?

(ST)

A demo da canção “LOTER” era do mais básico possível. Durava cerca de 8 minutos e desses, 6 eram com o Peter a usar o telemóvel junto ao portátil criando interferência. Contudo, existiu algo que eu gostei naquele registo. Criava uma atmosfera algo negra e assim, fiz o “sample” daquele som da interferência e toquei-o juntamente com um “loop” de bateria que inventei formando assim o som de fundo com o qual o Peter e o Graham tocaram quando começamos a gravar.

Curiosidades 2 (KL):

b) 1939 Returning – Quem teve a ideia de adicionar este som (parece o início de um filme antigo no início e acaba com o som de um carrocel).

(ST)

Eu!. Desde o meu trabalho com os Smiths que sempre gostei de adicionar efeitos nas gravações para criar a atmosfera mais adequada.

Um desafio (KL) – Podem ouvir no Player do blog:

A típica canção por dura 3 a 4 minutos. Existem pelo menos duas nas quais trabalhaste que duram mais. É difícil manter o ouvinte atento durante músicas com cerca de 7

minutos e tal. Fala-nos sobre estes três exemplos que se seguem. Os primeiro, apesar de serem músicas diferentes, para mim, ao ouvir o álbum funcionam como uma música só.

A segunda é talvez a que eu mais aprecio, um tema magnífico. A última, não é tua mas provavelmente já a ouviste e foi uma surpresa para mim. Gostava que igualmente a comentasses.

a) A Little Death Around The Eyes & Salomé - Peter Doherty – “Grace/Wastelands”, 2009

(ST)

“A Little Death” cresceu de uma forma épica na minha forma de ver. Começa com o Peter e o Graham tocando junto de um som/batida jazzy anos 60 que criei e parecem sugerir aquela vibração tipo Scott Walker, / Serge Gainsbourg . Assim, decidimos ir por aí. Depois, no final da canção criei um pequeno “loop” com o “doodling” – tipo de dedilhar na guitarra (som)- que o Graham e o Peter tocavam no acorde final. Com isso, pareceu possível que a canção colasse com algo. Esse algo foi o tema Salomé que encaixou na perfeição (mesmo tom, brilhante melodia triste).

b) Late Night, Maudlin Street – Morrissey – “Viva Hate”, 1988

(ST)

Fico contente por gostares deste tema. É um dos que mais me orgulho! Muito diferente de um arranjo pop normal que cresce, cresce de uma forma muito subtil. A razão porque funciona tão bem como uma faixa longa tem a ver com a maravilhosa entrega vocal do Morrissey e ele ter igualmente uma história para contar ao longo da música que vai tendo mudanças igualmente muito subtis.

c) Moment of Surrender – U2 – “No Line On The Horizon”, 2009

(ST)

Não estou bem certo porque queres que comente esta faixa. É uma boa música com uma óbvia marca do Eno na produção e The Edge soando como nunca a Dave Gilmour.

Finalmente (KL):

Trabalhaste com pelo menos 3 gerações diferentes de bandas,músicos, compositores, etc:

80’s – Smiths and Morrissey…

90’s – Blur, Graham Coxon, The Cranberries…

2000’s – Kaiser Chiefs, Babyshambles & Pete Doherty, The Courteeners…

Quais as maiores diferenças entre estes “momentos no tempo”?

(ST)

Para ser honesto, não existem assim grandes diferenças. Uma boa melodia, uma grande trabalho ao nível da voz, arranjos/dinâmicas interessantes, distintas melodias de guitarra; Estes foram sempre os factores mais importantes ao longo dos anos. Algumas dessas qualidades ainda são verdadeiras e aparecem. É isso que me leva/atrai em primeiro lugar para trabalhar com um artista.

FIM