Os Videos do King_leer, Outono 2016

domingo, 14 de junho de 2009

STEPHEN STREET , "UM TOQUE DE MIDAS" - A ENTREVISTA






Ora bem, este é o último capítulo à volta do registo a solo do Pete Doherty. Numa semana muito movimentada para o lado do Peter e com o Graham ocupado com os ensaios dos Blur (Falaremos com ele sobre este assunto mais tarde, espero), era tempo de falar com o homem por “trás do volante”. Como o Maestro que conduz a sua orquestra, Stephen é um dos mais talentosos e experimentados produtores. Ele trabalhou com tanta gente, tantos egos e personalidades mas, proporcionou-nos sempre um trabalho final notável e uma visão pessoal muito própria. Espero que apreciem as linhas que se seguem:

King_leer (KL)

Stephen,

Já fiz algo parecido com o último álbum dos Kings of Leon. Tentar proporcionar a quem lê, algo mais sobre o trabalho de produção. Assim, como produtor, qual foi a tua tarefa desde o início no álbum a solo do Peter Doherty? Em algum momento foi diferente dos teus anteriores trabalhos?

Stephen Street (ST)

Basicamente, tive que ajudar o Peter a desenvolver estas composições até se tornarem canções verdadeiramente estruturadas. Algumas dessas canções existiam há já algum tempo e outras eram muito recentes mas, o que existia de semelhante entre elas era que se tratavam basicamente de ‘sketches’.

As únicas demos que ouvira do Peter eram apenas ele a cantar directamente para o seu portátil, muitas das vezes sem um início ou fim identificáveis, por isso foi quase como ter uma tela em branco, bastante diferente das demos que ouço antes de começar a trabalhar com outros artistas. De qualquer forma foi um desafio e tanto mas, como o Peter inspira-nos como artista, foi mais fácil desenvolver ideias para os arranjos. Ao mesmo tempo foi uma incrível ajuda ter alguém tão talentoso como o Graham Coxon a bordo desde o início. A forma como ele toca é absolutamente inspiradora e tanto o Peter com eu rapidamente começamos a ver que as canções estavam a ir em direcções maravilhosas.

(KL)

O Peter grava diversas vezes demos – como o fez aqui no Porto. Habitualmente começas por aí e depois desenvolves o som inteiro que pretendes para um álbum ? Pergunto isto pois sei que para ti a performance ao nível da voz é extremamente importante mesmo que, “Se alguém capta o momento, não interessa se a voz tem algumas imperfeições” – Cito a tua entrevista em 1999 à Sample Craze. Assim, tu tens que reunir tudo o que existe e misturar com as tuas ideias e conceitos, certo?

Existem fantásticos momentos neste disco, nomeadamente a combinação entre a secções de cordas e as guitarras que criam um ambiente único. Posso dizer até que existe um ambiente tipo “Cabaret” ao longo deste disco com o seu momento mais alto em “Sweet By and By”. Estarei longe da verdade?

(ST)

Como mencionei acima, eu não tinha quase nada a não ser demos muito básicas para ouvir antes das sessões. Simplesmente sentei-me com uma guitarra e tentei criar os acordes e ao mesmo tempo tomando notas sobre as ideias que tinha para os arranjos.

Foi desta forma que depois visitei o Graham e mostrei-lhe o que tinha em mente por forma a conseguir envolvê-lo no projecto.

Quanto á performance vocal do Peter, quando ele está em boa forma ele é fantástico. No entanto, por vezes tive que o pressionar, obrigando-o a terminar as letras e desempenho num nível satisfatório mas, penso que o Peter aprecia que façam isso com ele. Não faz sentido estares rodeado de pessoas que dizem “amen” e fantástico a tudo que fazes.

Eu sabia que, sendo este um álbum a solo, eu não tinha que me preocupar em rodear as canções com o som de uma banda e, assim sendo, libertou-nos para experimentar algo diferente em cada canção, como usar secções de cordas, guitarras “ambientais” e teclados.

Curiosidades 1 (KL):

a) Em “The Last of The English Roses”, nos primeiros segundos da música consegues ouvir algo como uma interferência de telemóvel. Foi produção ou algo mais que isso?

(ST)

A demo da canção “LOTER” era do mais básico possível. Durava cerca de 8 minutos e desses, 6 eram com o Peter a usar o telemóvel junto ao portátil criando interferência. Contudo, existiu algo que eu gostei naquele registo. Criava uma atmosfera algo negra e assim, fiz o “sample” daquele som da interferência e toquei-o juntamente com um “loop” de bateria que inventei formando assim o som de fundo com o qual o Peter e o Graham tocaram quando começamos a gravar.

Curiosidades 2 (KL):

b) 1939 Returning – Quem teve a ideia de adicionar este som (parece o início de um filme antigo no início e acaba com o som de um carrocel).

(ST)

Eu!. Desde o meu trabalho com os Smiths que sempre gostei de adicionar efeitos nas gravações para criar a atmosfera mais adequada.

Um desafio (KL) – Podem ouvir no Player do blog:

A típica canção por dura 3 a 4 minutos. Existem pelo menos duas nas quais trabalhaste que duram mais. É difícil manter o ouvinte atento durante músicas com cerca de 7

minutos e tal. Fala-nos sobre estes três exemplos que se seguem. Os primeiro, apesar de serem músicas diferentes, para mim, ao ouvir o álbum funcionam como uma música só.

A segunda é talvez a que eu mais aprecio, um tema magnífico. A última, não é tua mas provavelmente já a ouviste e foi uma surpresa para mim. Gostava que igualmente a comentasses.

a) A Little Death Around The Eyes & Salomé - Peter Doherty – “Grace/Wastelands”, 2009

(ST)

“A Little Death” cresceu de uma forma épica na minha forma de ver. Começa com o Peter e o Graham tocando junto de um som/batida jazzy anos 60 que criei e parecem sugerir aquela vibração tipo Scott Walker, / Serge Gainsbourg . Assim, decidimos ir por aí. Depois, no final da canção criei um pequeno “loop” com o “doodling” – tipo de dedilhar na guitarra (som)- que o Graham e o Peter tocavam no acorde final. Com isso, pareceu possível que a canção colasse com algo. Esse algo foi o tema Salomé que encaixou na perfeição (mesmo tom, brilhante melodia triste).

b) Late Night, Maudlin Street – Morrissey – “Viva Hate”, 1988

(ST)

Fico contente por gostares deste tema. É um dos que mais me orgulho! Muito diferente de um arranjo pop normal que cresce, cresce de uma forma muito subtil. A razão porque funciona tão bem como uma faixa longa tem a ver com a maravilhosa entrega vocal do Morrissey e ele ter igualmente uma história para contar ao longo da música que vai tendo mudanças igualmente muito subtis.

c) Moment of Surrender – U2 – “No Line On The Horizon”, 2009

(ST)

Não estou bem certo porque queres que comente esta faixa. É uma boa música com uma óbvia marca do Eno na produção e The Edge soando como nunca a Dave Gilmour.

Finalmente (KL):

Trabalhaste com pelo menos 3 gerações diferentes de bandas,músicos, compositores, etc:

80’s – Smiths and Morrissey…

90’s – Blur, Graham Coxon, The Cranberries…

2000’s – Kaiser Chiefs, Babyshambles & Pete Doherty, The Courteeners…

Quais as maiores diferenças entre estes “momentos no tempo”?

(ST)

Para ser honesto, não existem assim grandes diferenças. Uma boa melodia, uma grande trabalho ao nível da voz, arranjos/dinâmicas interessantes, distintas melodias de guitarra; Estes foram sempre os factores mais importantes ao longo dos anos. Algumas dessas qualidades ainda são verdadeiras e aparecem. É isso que me leva/atrai em primeiro lugar para trabalhar com um artista.

FIM

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