À cerca de um ano, no Porto Canal, falamos da situação da indústria musical. Desde lá muita coisa mudou. Apesar da maturidade que a Jo-Jo's/CD-GO tem, o que continua a dificultar o dia a dia de uma (desculpa usar este termo mas é o peso historial da palavra) discoteca? Continua a concorrência "abusiva" de alguns parceiros?
Para o devido entendimento dos leitores, recorda-nos algumas dessas situações que se passam neste mercado e que não são propriamente do domínio público.
Artur Ribeiro (AR&CDGO):
De facto é uma luta constante, contra a pirataria, contra a crise, contra os monopólios e seus exclusivos. A Jo-Jo’s felizmente tem conseguido ultrapassar todas essas “guerras caseiras”, fruto de uma dedicação e empenho total, da minha parte e da excelente equipa que me acompanha. A forma de contornar os exclusivos é simples; estes artigos compramos e vendemos ao mesmo preço, mas temos o produto, no dia, na loja e na internet. Se passamos anos (e já lá vão 30) a fidelizar clientes, não vamos agora permitir que uma cadeia de lojas, com a benção das editoras, passe a ter em exclusivo este ou daquele disco. A parte legal deste esquema é discutível, todos sabemos que atropela a lei, mas não vamos dar tanta importância ao assunto, se outras lojas de maior dimensão se acomodam, nós resolvemos o problema comprando e tendo ao preço da concorrência. Não ganhamos neste, mas ganhamos nos outros e no excelente serviço que prestamos ao cliente.
(KL):
Estou com uma edição do "New Musical Express" do passado mês de Dezembro à minha frente que fala do colapso da Pinnacle Enterteinment, uma das principais distribuidoras independentes do Reino Unido que por si só assegurava a distribuição de um catálogo de quase 400 artistas. Apesar do fenómeno de edição e distribuição pela Net de que modo estas falências se fizeram ou fazem sentir no nosso mercado?
(AR&CDGO):
O nosso mercado não está imune a estas “transfusões”, cada vez mais as editoras e distribuidoras portuguesas têm emagrecido os seus quadros, também fruto da rapidez e facilidade com que se divulga hoje um lançamento. Algumas teimaram em não se adaptar à mudança e acabaram por ficar pelo caminho, outras sucumbiram por terem concentrado as suas vendas em um ou dois clientes fortes, que na falta destes ou na quebra de vendas se viram “abandonadas” sem ter quem lhes garantisse o escoamento.
Na Grã-Bretanha no final do ano passado entraram em falência as lojas ZAVVI (Ex-Virgin Megastores), Woolworths e a distribuidora Pinnacle, o efeito dominó fez-se sentir nestas cadeias de lojas/armazenistas/editoras, porque a concentração entre eles era muito grande, todos dependiam uns dos outros, não criaram canais alternativos de distribuição capazes de poder suportar a queda de um dos parceiros. Em Portugal, neste momento, algumas editoras/distribuidoras actualmente dependentes de uma ou duas cadeias de lojas de discos, bem podem “rezar” para que a crise não afecte demasiado essas lojas, pois seria o descalabro total, durante anos desprezaram as lojas de pequena e média dimensão, contribuíram indirectamente para o encerramento dessas lojas e agora quem dita as regras é o cliente.
(KL):
Com os anos que já levas no mercado da venda de discos, qual a situação mais caricata que presenciaste e que possas partilhar connosco?
(AR&CDGO):
A mais caricata tem a ver com os selos dos DVD’s musicais. Neste pequeno país em que há leis para tudo e para todos, umas que funcionam (mas pouco), outras que foram criadas para complicar a vida aos cidadãos, tal é a complexidade das mesmas, há uma que merece um reparo de quem está no terreno e sente na pele o problema; Imagina que um DVD legal de uma banda tipo U2 se estiver exposto sem selo é objecto de apreensão por parte da entidade competente, curiosamente a mesma entidade que legaliza e “sela” um DVD de um concerto dos mesmos U2, não autorizado pela banda ou pela editora, e que nem faz parte da discografia dos mesmos. Isto é surreal, mas acontece, está no nosso mercado e à venda nas cadeias de lojas nacionais.
(KL):
Fala um pouco da tua Jo-Jo's/CD-GO e dos projectos para o futuro próximo. Sempre vamos ter mais música ao vivo (showcases nas instalações)?
(AR&CDGO):
Vamos lá ver, luto por isto há anos, se me deixarem trabalhar em produtos não formatados, em projectos alternativos e de qualidade, a Jo-Jo’s vai ter uma palavra a dizer no futuro. A partir de meados de Maio vai ser possível em dois pisos de loja comprares um disco, um livro, um vinil em 2ª mão, uma revista vintage, um gira-discos, uma agulha, uma máquina de limpar vinil e assistires ao lançamento de um livro ou de uma banda. Já por lá passaram nomes como RICKIE LEE JONES, MARK EITZEL, TWINEMEN, DAMON & NAOMI, OLD JERUSALEM, entre outros, apesar das poucas condições que dispúnhamos, agora com o auditório finalmente vamos poder proporcionar momentos inesquecíveis a todos os amantes da música, vamos fazer um “upgrade” ao nosso modelo de negócio, sem descorar a nossa “menina dos olhos” que é a CDGO, a nossa excelente montra e canal de vendas que já dispomos há 11 anos.
Fiquem atentos à imprensa e ao site da CDGO, a inauguração está para breve e com grandes surpresas.
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