Os Videos do King_leer, Outono 2016

domingo, 29 de março de 2009

AFRICA EXPRESS - "Última Chamada...a não peder!"


“The curious beauty of African music is that it uplifts even as it tells a sad tale. You may be poor, you may have only a ramshackle house, you may have lost your job, but that song gives you hope. African music is often about the aspirations of the A” - Nelson Mandela.


Nas linhas seguintes, iremos conheçer este projecto que nos fala sobre Africa, um continente ao qual estamos históricamente ligados. É um projecto diferente, com princípios válidos e acima de tudo com um detalhe muito importante, a comunhão entre culturas diferentes de uma forma singular e expontânea.

Eventos como este fazem todo o sentido aqui em Portugal. Fica aqui o repto e espero sinceramente que daqui a um ano possa rever os comentários sobre o recente Africa Express realizado em Portugal.

Um obrigado especial ao Andy Morgan, da organização pelas palavras que se seguem. Espero que gostem do conteúdo e que vos seja útil.

KL




A Entrevista:


Caro Andy,

 

Esta entrevista terá como principal objectivo apresentar-te a ti e ao teu papel na organização do Africa Express aos leitores deste blog. Ao mesmo tempo será importante perceber o real significado desta iniciativa denominada Africa Express.

 

 

# 1 Sobre o teu papel na igualmente denominada “indústria musical”:

 

 

King_leer (KL) :

Andy, diz-nos um pouco mais acerca da tua pessoa, das tuas raízes e percurso.  És actualmente o manager de Tinariwen (http://www.tinariwen.com/).Que mais te mantém ocupado actualmente?

 

Andy Morgan (AM):

 

Trabalho nesta area à 25 anos,  fazendo tudo desde cantar em bandas até acompanhar/gerir estratégias de marketing e2 desenvolvimento Internacional em companhias como a WOMAD (Reino Unido), FNAC (França), PIRANHA (Alemanha) e a WORLD CIRCUIT RECORDS (Reino Unido). Ao mesmo tempo, criei a minha própria editora, a “Apartment 22 Records” onde edito música electrónica, dentro do género World music. Fui igualmente jornalista musical (freelance) nas últimas duas décadas, escrevendo para a Songlines,fRoots, The Independent e o NME entre outras publicações. Desde 2001 que sou o manager do Tinariwen.

 

 

# 2 Sobre o Africa Express, o ideal, a ideia e o significado:

 

 

(KL):

 

Começei a ter contacto com o projecto “Africa Express” a partir do NME e a partir daí seguindo com atenção as iniciativas em preparação. Qual a verdadeira razão para a criação deste movimento? Começou com as viagens por África do Damon Albarn ou foi uma simples combinação de vários factores?

 

(AM):

 

O Africa Express começou como uma reacção ao Live 8 – iniciativa do Bob Geldof. Muitas pessoas no Reino Unido e noutros locais pensaram que ao excluír qualquer música Africana do line-up deste concerto, Geldof estava  a apresentar uma falsa imagem de África. A impressão causada que em África não existe nada para oferecer além da SIDA, malária, pobreza, corrupção e vida selvagem e que apenas mereçe de nós pena e caridade. Isto é FALSO! Africa pode ensinar ao Mundo muitas coisas e tem igualmente uma enorme cultura musical e excelentes intérpretes. Inicialmente era apenas um grupo de pessoas que trabalhavam com música Africana e se juntaram para com a finalidade de organizar alguns grandes concertos de alguma dimensão em que músicos Africanos e do Ocidente se juntassem e tocassem em pé de igualdade. Havia o Damon Albarn mas igualmente outros, especialmente o Ian Birrell, editor do jornal “The Independent” aqui no Reino Unido.  Da equipe faziam parte um conjunto de diferentes personalidades, desde promotores, jornalistas, donos de editoras, a managers, etc. Depois de passarmos um ano a tentar reunir o dinheiro necessário para organizar e levar a cabo estes grandes concertos, o Damon sugeriu que deveríamos tentar fazer as coisas de forma diferente. Ele queria voltar mesmo às “raízes” e organizar viagens e eventos onde músicos do Ocidente e Africanos se pudessem juntar, inspirando-se mutuamente.

 

 

# 3 Ainda sobre o Africa Express:

 

 

(KL):

 

Quando produzes/produzem um novo evento, como é que as bandas se envolvem? É um convite tipo “boca a boca” ou tem alguma regra aplicável?

 

(AM):

 

Ora bem, basicamente são enviados convites para um grande número de artistas/bandas Africanas e do Ocidente. Usamos todas as fontes e contactos que temos para organizar a maior lista possível de candidatos a participarem no evento. Muitos querem vir e participar mas não o podem fazer devido a compromissos já assumidos. A principal regra é a de que ninguém é pago para participar. Apenas se pagam as despesas de deslocação, etc. No entanto, por vezes a alguns artistas Africanos são pagos os direitos de transmissão (broadcasting rights). É suposto ser bastante democrático. Queremos apelar ao sentido de aventura dos músicos e á sua curiosidade por descobrir novas mentalidades e sonoridades e nunca apelar à sua ganância!

 

# 4 O teu papel na organização:

 

 

(KL):

 

No início desta entrevista, disseste que eram um dos dez membros do comité desta organização. Explica-nos qua o teu papel e o funcionamento desse comité.

 

(AM):

 

O comité (não é esse o verdadeiro nome…..apenas não temos um nome para ele!) junta-se habitualmente uma vez de dois em dois meses para decidir o que fazer no futuro próximo… quais os eventos, as viagens, projectos, etc. Falamos imenso e trocamos entre nós um série de ideias e chegamos sempre a um consenso. Depois sobre alguns de nós é delegada a tarefa de levar estas ideias a cabo. Cada um de nós tem a sua a sua área dedicada. A minha é a da escrita, comunicação, internet, etc, etc.

 

# 5 Por último e sobre um possível evento a realizar aqui em Portugal:

 

 

(KL):

 

O nosso contacto começou com a questão que te levantei da possibilidade e vosso interesse em organizar um evento Africa Express aqui em Portugal. Se, num futuro próximo, esse projecto avançar (se eu encontrar interessados em avançar comigo e com “ele”), que tipo de evento podemos ter por cá?

Seria muito interessante a comunhão das nossas raízes Africanas (devido ao nosso historial comum) com o vosso conceito, não achas?

 

(AM):

 

Sim, seria muito interessante fazer algo em Portugal. Mas, necessita de uma muito especial combinação de diversos factores para ser possível.

Primeiro, necessitas de uma boa sala, com uma excelente atmosfera. Nada de muito grande….500 a 1000 pessoas é excelente. Será necessária uma licença flexível que permita aos músicos actuar até às 2 da madrugada ou mais. Tem de ter uns bastidores GRANDES (ou local muito próximo), para permitir que os músicos se apresentem e se conheçam. Se divirtam e faça algumas “jam sessions”,etc, etc.   

Os custos são elevados por isso serão necessários meçenas e patrocinadores locais. É algo importante e de montagem trabalhosa. Não existem honorários fixos como já mencionei atrás.

O mais importante é criar um ambiente e uma atmosfera onde tudo possa aconceçer em termos de criatividade. Podemos apenas realizar um par de concertos por ano.

 

 

FIM

quarta-feira, 11 de março de 2009

MARK BEAUMONT - Do N.M.E. para o Mundo, das influências de Morrissey até um certo episódio sobre snifar as cinzas do Pai....!




Esperei desde Dezembro ultimo pelas respostas do Mark, visto ele ter estado a terminar um livro seu. A espera valeu a pena e agora posso transmitir-vos o resultado.

Eu e o Mark somos da mesma geração (eu 1971, ele 1972 – corrige-me se estiver errado, Mark!) e partilhámos a mesma paixão pela música e particularmente por uma figura como podem verificar mais à frente, Morrissey. Os “The Smiths” foram a minha sombra nos tempos da juventude e a figura de Morrissey importante no meu comportamento musical.

Mas, é do Mark que vamos falar. Conheçido pela sua frontalidade e pelas suas entrevistas e  análises por vezes controversas, ele conta-nos um pouco mais sobre ele, sobre o N.M.E.,  histórias peculiares.

Espero que gostem:

 

King_leer (KL):

Tu estás numa das mais importantes revistas de todos os tempos. Diz-me e, para claro entendimento de quem lê este blog, o que é no terreno um “Staff Writer”. Como é o teu dia a dia?  Como editas a tua coluna semanal?

Mark Beaumont (MB):

Sendo um “staff writer”, o meu papel era mais ou menos  um cão de sapa, no que toca a palavras e análise de textos  – tudo o que era necessário revisto em pouco tempo ou algum conteúdo que necessitava de ser reescrito no estilo próprio da “casa”, eles vinham para mim. Eu tinha igualmente bastantes vezes a primeira opção sobre escrever os artigos mais importantes  mas, igualmente, muito do meu dia era passado a editar a página dos novos temas, que  o fiz durante cerca de sete anos. Essa tarefa envolvia compilar 20 listas de singles que iriam saír em cada semana, ajudar a escolher o tema da semana (track of the week) e editar algumas revisões semanais sobre novas edições. Recentemente tornei-me um freelancer, por isso, estou fora do escritório e escrevo entrevistas e artigos de opinião para o N.M.E.  bem como para o Times, Mail on Sunday, Uncut, The Guardian e outras publicações. Em relação à minha coluna do N.M.E., geralmente discuto os tópicos com o editor à Sexta-Feira, escrevendo-a na Segunda-Feira seguinte.

(KL):

Esta questão gosto sempre de a colocar a quem está desse lado. Qual a banda ou artista que mais te influenciou no que toca a letras. Qual a canção que igualmente mais te influenciou ?

(MB):

Sempre fui um grande fã das letras do Elvis Costello, principalmente por causa das suas “mudanças de direcção” – o seu álbum “Blood And Chocolate” é fértil em criatividade em termos de letras. E depois, há igualmente os The Magnetic Fields - Stephin Merrit com a sua tristeza e romance é um raio de luz neste tempo de  “The Courteeners”. Mas, se me sinto em baixo, volto-me sempre para os “Wedding Present” e canto bem alto (como quem canta os blues) ao som de  “Heather”, “Blue Eyes” or “Bewitched”.

(KL):

2008 trouxe-nos boas músicas, óptimas novidades mas ao mesmo tempo alguns discos de quem eu esperava um pouco mais. Existem bandas que em 2004/05 tiveram um excelente primeiro álbum, um bom segundo e um não tão bom terçeiro, como na minha opinião sucedeu com os Razorlight, Dirty Pretty Things, Killers e Bloc Party. Por outro lado tivemos óptimas surpresas com os Elbow, Last Shadow Puppets, Glasvegas e aguardamos pelo novo dos Franz (duvido que falhem). O que está a aconteçer ou aconteçeu? Pressa a mais na edição de um novo registo?

(MB):

Sabes, não penso que essas bandas tenham acelerado propositadamente para a edição de um novo disco. Penso que os ouvintes estão mais ansiosos para reclamar que os discos não foram tão bons como os primeiros. O último dos Bloc Party acho-o brilhante assim como o dos Franz e dos Killers estão a subir na minha escala diáriamente. É muito fácil “ignorar” ou catalogar um segundo ou terçeiro álbum de uma banda pois eles têm quase cinco anos para escrever o seu primeiro, e seis meses para escrever o segundo. Mas, muitos dos segundos e terçeiros álbuns, se lhes derem o tempo suficiente para análise, são muito melhores do que a crítica geralmente diz.

(KL)/ (MB):

Eu digo-te uma banda ou intérprete e tu escreves o que entenderes, ok?

 - Glasvegas:

Bela banda, está para durar.

- Pete Doherty:

Alguém com quem não perderia o meu tempo para tentar entrevistá-lo de novo.

 - Elbow:

Eles expulsaram-me de uma da suas festas após um concerto por eu ter escrito algo que não gostaram de ler mas, sinto-me feliz por eles terem finalmente alcançado o respeito e reconhecimento que à muito tempo mereciam.

 - Last Shadow puppets:

Um dos melhores projectos paralelos da última década, assim como os The Postal Service.

 - Cribs com e sem Johnny Marr:

 Grande som. O Johnny é um  “gentleman”.

 - The Kooks:

Os responsáveis pelas mais incríveis bebedeiras que já apanhei. O tempo que passamos juntos em Tijuana foi incrível e ninguém foi preso!

 - Richard Hawley:

 Não tenho passado muito tempo com o Richard ou com os seus discos desde os Longpips em meados dos anos 90, tenho que o admitir.

 - Oasis:

Ainda estão aí?

 - Richard Ashcroft:

Um homem excêntrico para idolatrar.

 - Morrissey:

Sou um grande fã de Moz e posso perdoar-lhe (quase) tudo. Há algo na sua personalidade extremamente defensiva que me faz querer conhecê-lo melhor, possívelmente porque sei que nunca o vou conseguir. A minha entrevista com ele é, penso, a melhor que alguma vez publiquei.

(KL):

Sobre o Mundo: Qual é para ti a grande causa para este colapso financeiro Mundial?

(MB):

Bush, Brown, a Guerra, a espiral em que entrou o preço do petróleo, o boom do preço das casas e a imprensa! Especialmente no Reino Unido, a imprensa é o grande catalizador desta crise. A imprensa causa o pânico acerca da queda dos preços das propriedades. Assim, qualquer um se sente mais pobre e, por isso, gasta menos. Os media causam o pânico por as pessoas gastarem menos e, assim, as pessoas ainda gastam menos. Antes que dês conta disso, entretanto os mercados caem a direito, a confiança na economia simplesmente não existe, o desemprego sobe em flecha e olha onde estamos nós agora. Dar milhões aos bancos não é solução. As empresas não deveria sequer fazer cortes na mão de obra, deveria aceitar estes tempos de menores lucros e seguir em frente!

(KL):

Qual foi para ti a melhoe entrevista que fizeste e a pior? Algum episódio peculiar que nunca tenhas mencionado e queiras partilhar connosco?

(MB):

 

A melhor foi uma com o Morrissey em Roma pois penso que me inspirou para uma das melhores fazes de escrita na minha carreira. O episódio de “snifar as cinzas do Pai” na entrevista com o Keith Richard foi o episódio mais interessante visto ter feito primeiras páginas a nível Mundial com aquela declaração. Entrevistar o Elvis Costello e o Burt Bacharach em Nova Iorque foi outro momento especial.     

FIM